voltando para casa, converso sozinho e distraído. sempre penso em você olhando o pedaço do céu e os prédios velhos do centro, são sempre as mesmas conversas repetidas e repetidas vezes como memórias involuntárias do seu corpo e dos meus erros.
demoro até perceber que do outro lado da rua seus pais sorriem e acenam para mim. eu estou tão assustado que meu braço fica como uma bandeira a meio mastro, acena pela metade. a cena nunca se fecha e não sei bem o que pensei me sentindo tão acuado como um animalzinho de merda, mas agora parece claro como um filme sua voz dizendo ao fundo "todos em minha vida te odeiam".
então desço a rua envergonhado e surpreso sem nem ao menos olhar para trás.
sei que não se trata de culpar alguém
mas eu ainda me sinto o vilão da sua vida
(e se em meu quarto eu choro condescendentemente, molhando o travesseiro e distorcendo meu rosto é porque ainda não aprendi as coordenadas dessa nova vida)