faz muito tempo que não nos vemos mas ainda permanece doloroso constatar que sua faca só pesa em minhas costas em noites como essa. Espero que me perdoe por começar atacando, mas se há algo que me ensinou, foi justamente nunca hesitar em atirar. Acho que aprendi essa lição muito bem.
Em nosso último encontro o senhor ainda parecia um pouco transtornado e arredio, mesmo assim eu ainda pensei em te abraçar em nome da nossa velha amizade mas mantive uma distância segura. É provável, que o senhor não tenha se incomodado e até compreendido bem essa minha desconfiança, já que todas as suas relações parecem sempre pautadas nisso, um grande jogo de traições e rupturas. Triste é constantar que o senhor nunca pareceu ser um bom estrategista, escolhendo constantemente como inimigo aqueles que tinham o senhor em mais alta estima.
Não quero usar de silogismos prontos e covardes afirmando que o senhor me dragou para sua vida com seus problemas e que tem o perverso poder de destruir tudo por tão pouco. Sei onde errei em minha última carta e todo ressentimento infantil que deixei transparecer no calor das horas mas como o senhor, eu não vou pedir desculpas... talvez hoje eu entenda melhor suas atitudes, embora tenha dificuldade em aceitar que todas as suas certezas te transformaram somente em alguém infeliz e distante de qualquer "outro". Não era contra isso que lutavamos?
Desejo que o senhor esteja bem, mesmo que sua escolha tenha sido essa, ser eternamente coerente com o mofo dentro do próprio peito.
Adeus.
escrevi às 23:50
Certa vez, queimei todos os pedaços de papel, poesias e cartas que me lembravam um grande amor. Em um desses papeis estava escrito, ironicamente, que eu estaria mentindo se algum dia dissesse ter esquecido tudo aquilo que senti.
O que de certa forma acabou sendo verdade.
Naquela época eu não sabia como era estar de fato com outra pessoa e me lembro perfeitamente da expressão no rosto dela quando disse: "não sei e talvez nunca possa dizer o que quero de você" (foi uma expressão tão confusa como observar o rosto de Magda, a vizinha de "Não Amarás"). A verdade é que passei muito tempo procurando alguma explicação por ter sofrido tanto por ela, mas nunca encontrei nada além de todas as idealizações infantis que eu mesmo criei.
Então, acho que hoje posso te dizer que talvez entenda sua dor, pois naquela época eu também parecia precisar de um drama qualquer para preencher meus dias. E é por isso que estou aqui, eu ainda estou aqui... escrevi às 16:40
domingo, novembro 28, 2010
quase um ano se passou
desde que achei que queria beija-la
depois disso
o gosto de cerveja quente
e
quase
500 cigarros apagados
em seus lábios
me lembram
que estou exatamente
onde queria estar
Escreveria mais se não tivesse tão cansado de não dizer nada... escrevi às 06:01
sábado, novembro 27, 2010
devo dar o próximo passo mesmo sem saber onde estou pisando?
meu coração dispara e pupilas dilatam enquanto sinto um frio incomodo na barriga... não consigo pensar em nada. pode ser o último instante e na velocidade que estamos provavelmente não vai sobrar nada. ninguém pronunciará uma palavra, apenas afrouxaremos o cinto e vislubraremos nosso fim, inclinando a cabeça para baixo, fitando corajosamente o abismo que se revela.
assim espero que aconteça, mas é provável que eu não ache resposta alguma essa noite. talvez porque não há resposta a ser encontrada... não hoje e não essa noite. se você pedisse, aceitaria de bom grado me calar mas mesmo se eu ficasse em silêncio teria pouca sorte e estou tão cansado de fingir que não estarei aqui quando você voltar que vou guardar todos os meus segredos...
bem sei que de manhã quando acordar e olhar o teto, como sempre faço, tudo que sinto terá passado. vou me sentir idiota por sempre inventar motivos para perder o sono. meu quarto sem você parece menos meu, é só um quarto, um lugar qualquer, um pequeno ponto perdido no nada, no escuro... a cama desfeita e o espaço vazio que deveria ser seu parecem demonstrar que tudo isso só é importante para mim.
só agora me lembro da sua promessa mas o que eu realmente quero, não se pode pedir a ninguém.
escrevi às 03:10
sexta-feira, novembro 26, 2010
Eu entro/ eu te vejo/ eu te observo/ eu te examino/ eu te espero/ eu te faço cócegas/ eu te provoco/ eu te respiro/ eu converso/ eu toco no seu cabelo/ você é a pessoa/ você é a pessoa que fez isso comigo/ você me pertence/ eu te mostro/ eu te sinto/ eu te pergunto/ eu não pergunto/ eu não espero/ eu não te pergunto/ eu não posso te contar/ eu minto/ estou chorando muito/ havia sangue/ ninguém me contou/ ninguém sabia/ minha mãe sabe/ eu esqueço seu nome/Eu não penso/ eu escondo minha cabeça/ eu escondo sua cabeça/ eu escondo você/ minha febre/ minha pele/ eu não consigo respirar/ eu não consigo comer/ eu não consigo andar/ eu estou perdendo tempo/ estou perdendo chão/ não posso agüentar isso/ eu choro/ eu grito/ eu mordo/ eu mordo seu lábio/ eu respiro sua respiração/ eu pulso/ eu rezo/ eu rezo em voz alta/ eu cheiro você na minha pele/ eu digo a palavra/ eu digo seu nome/ eu te cubro/ eu te abrigo/ eu fujo de você/ eu durmo ao seu lado/ eu cheiro você nas minhas roupas/ eu guardo suas roupas.
Jenny Holzer, um poema escrevi às 03:13
domingo, novembro 21, 2010
me relate todos os seus feitos
seus períodos de chuva
e todas as razões pelas quais você não conseguia dormir a noite
queria ser merecedor dos seus segredos
gostaria de encontrar uma coisa qualquer para acreditar só hoje só por hoje
isso é o que se sente
andando sem rumo
através das ruas dessa cidade
esperando que os pensamentos cessem
enquanto volto para casa
nuvens
telhados
ruas e casas
me distraem
me impedem de entender
o que de fato tudo isso significa
talvez
eu esteja perdido
ou quem sabe,
o amor escrevi às 02:29
quinta-feira, novembro 18, 2010
"Agora escrevo pássaros. Não os vejo chegar, não escolho, de repente estão aí, um bando de palavras a pousar uma por uma nos arames da página, entre chilreios e bicadas, chuva de asas, e eu sem pão para dar, tão somente deixo-os vir. Talvez seja isto uma árvore, ou quem sabe, o amor."
Para Cris - Julio Cortázar escrevi às 15:51
segunda-feira, novembro 15, 2010
penso em te acordar para ler o poema que achei
mas 4:48 se aproxima e você deve estar na cama
talvez sinta o mesmo que eu no seu quarto silencioso
não tenho pressa
dirigiria até você
se soubesse dirigir
ou
escreveria meus versos mais bonitos
mas só consegui esse emaranhado de palavras sem sentido
então eu fico deitado em minha cama
olhando para o teto
esperando que algo ocorra
(nunca acontece nada)
o telefone não vai tocar
a porta não vai abrir
e o café intocado já esfriou na mesa
enquanto ainda não amanheceu
quando você abre os olhos qual é a primeira coisa que você pensa? escrevi às 04:40
domingo, novembro 14, 2010
Certa vez sem querer tropecei no amor, desde então, eu sinto como se estivesse doente. escrevi às 23:46
eu amava a sua ausência. lembrava do seu cheiro, mas não era o “seu” cheiro. escutava a sua voz, mas não era a “sua” voz. a foto que ficava em cima da escrivaninha e que escondi no fundo armário também não era você. e era isso que eu amava tanto: a sua ausência tinha a minha forma e tenho saudades quando começo a esquecer quem sou.
há várias maneiras de não se sentir só. simular a presença e criar alguém.como os fantasmas que acompanham fotos, roupas, cartas, cheiros ou lembranças. a presença não é uma questão necessariamente física (muito menos estar sozinho). a concretude parece as vezes ser apenas mais um dos meios de propagação desse desencantamento do mundo.
a sua lembrança era como a respiração quando se dorme junto ou o braço largado sobre o peito do outro. era como se nada de ruim acontecesse enquanto eu pudesse lembrar. e já fazia muito tempo que tudo era tão silencioso e calmo. tudo era silêncio em direção ao silêncio absoluto. o pensamento vagando pelos caminhos da memória; completamente sozinho. por resto, eu entrava nos elevadores louco para que eles caíssem ou por qualquer outro barulho que quebrasse o silêncio. ansioso por um uivo que ecoe dentro de mim.
acho que ela também sentia o mesmo, mas sempre foi muito mais corajosa que eu, nunca esperou que pressão subisse, a ansiedade aumentasse ou que o coração parasse. ainda assim ela se cansou e pelo menos em um momento de todos aqueles anos, decidiu sobre o seu destino. tomou as rédeas da sua vida.
nada mudou.
ao menos, durante um bom tempo. recebi visitas de consolo que me faziam rir um pouco da idiotice daquelas pessoas. eu não precisava de visitas. já me cansei das conversas sobre “como vão os seus estudos?”, “e o coração?”... e o coração... meus amigos (os que restaram) acham que estou deprimido, mas nem psicólogos e nem orações resolvem o meu problema. não quero distrair a minha tristeza, não quero me distrair. acho que todos que me cercam sabem o que quero, só que é extremamente difícil para qualquer um deles ceder. é sempre mais fácil apelar para as convenções, para as palavras prontas de aconchego. digam que sou orgulhoso! digam que eu desejo mais do que posso ter! não é assim que eu quero que as coisas acabem! eu quero apenas o começo. só o começo sem fim algum.
coloco meu tênis velho, pego o casaco e saio para a rua. sempre existe uma esperança que algo aconteça (fico lembrando e cantarolando aquela canção que diz que há uma luz que nunca se apaga) . no elevador nada acontece. as ruas estão vazias e eu penso "nada demais". nada demais. o sinal está aberto para mim. atravesso devagar como se não fosse conseguir chegar ao outro lado, como se fosse desaparecer feito um fantasma. no entanto, algo me atinge antes de chegar ao outro lado. abro os olhos e não estou em casa. já não consigo sentir dor. uma luz pisca acima da minha cabeça (ela nunca se apaga completamente).
chove forte
finalmente eu estou só
escrevi às 16:35
quinta-feira, novembro 11, 2010
"ficarei a beira da porta
esperando você voltar
e quando aparecer no corredor
os meus braços parecerão pequenos para te abraçar
como uma criança prestes a chorar
afundarei minha cabeça nos teus ombros
e sujarei com lágrimas sua roupa
seu pescoço
cabelo
encherei seu ouvido com meu lamento
silencioso
meu rosto ficará deformado
mas nenhum som sairá da minha boca"
do caderno azul que achei perdido pelo quarto escrevi às 03:58
segunda-feira, novembro 08, 2010
"O que fazer quando não se pode mais amar as memórias?"
você sofre por achar frases mal escritas e perdidas em seu caderno azul (frases que ridiculamente ainda fazem sentido) escrevi às 18:01
Eu tenho medo de esquecer você e acreditar na maior mentira que inventei que não se consegue sentir falta do que não se pode lembrar escrevi às 17:40