"Puxa, aí começou a chover pra burro. Um dilúvio, juro por Deus. Todos os pais e mães, todo mundo correu pra de baixo do teto do carrossel, para não se molhar até os ossos, mas eu ainda fiquei ali no banco mais algum tempo. Me molhei pra diabo, principalmente no pescoço e nas calças. Até que meu chapéu de caça me protegeu mesmo um bocado, mas acabei ensopado de qualquer maneira. Mas nem liguei. Me senti tão feliz de repente, vendo a Phoebe passar e passar. Pra dizer a verdade, eu estava a ponto de chorar de tão feliz que me senti. Sei lá por quê. É que ela estava tão bonita, do jeito que passava rodando e rodando, de casaco azul e tudo. Puxa, só a gente estando lá para ver."
Trecho do livro O Apanhador no Campo de Centeio do escritor J.D. Salinger... as vezes pode parecer idiota, mas em dias como esses, pequenas motivações (mesmo que banais) me dão motivos para viver mais um dia (e quem sabe outros mais)... escrevi às 23:53
Um dia cinza, como esses dias propícios para se ficar em casa. Começava a chover e ele andava por entre os carros que parados em longas filas, tentavam desesperadamente sair da imobilidade em que estavam. Caminhou distraido e quase foi atropoleado ao atravessar a rua, as vezes chegava a odiar mais as sextas-feiras do que as segundas, as vezes odiava tudo... Colocou o capuz do casaco, mesmo assim os pingos ainda embaçavam sua visão, cisamando em cair nos olhos. Gostava de tomar chuva, mas detestava as gotas nos olhos, pois sempre davam a impressão de como se ele estivesse chorando (isso contribuia para sua melancolia). "Que me importa" pensou, "todos os adolescentes sofrem", mas mesmo pensar nisso não o confortava, pelo contrário sentia-se ainda mais idiota e previsível. Sorriu, sorria sempre que imaginava o quão clichê era sua postura de "adolescente angustiado". Balançou a cabeça como sempre fazia quando não queria pensar no que pensava, parou e resolveu entrar em um bar. -Um café, por favor. -Pingado? -É... -Trinta e cinco centavos. Pagou e recebeu em troca um café velho e requentado, exatamente como o que ele queria, sentou em uma mesa velha e engordurada, escorou os cotovelos e ficou a beber o café enquanto observava a chuva fina e constante que caia lá fora. Deixou o copo em cima da mesa e saiu, um mendigo na porta lhe pediu para comprar um pastel, inventou uma desculpa qualquer sobre não ter mais um tostão e foi embora. Começava a anoitecer, mas ele não queria voltar para casa, pois isso era consequentemente voltar para o mesmo vazio, a mesma poeira, os mesmos livros e as mesmas ligações nunca atendidas. Enquanto caminhava, a chuva intensificou e ele resolveu simplesmente parar de andar, sentia-se tão cansado e só, ficou observando as janelas dos prédios e suas luzes acesas pensando no que tantas pessoas faziam enquanto ele estava ali, encharcado e sozinho. Subitamente a chuva cessou e ele fechou os olhos, levantou a cabeça em direção ao céu como se buscasse qualquer resposta... não ouviu nada, ainda sentia-se exausto e logo a chuva voltou a cair. Crescer não deveria ser tão doloroso. escrevi às 22:32